O REINO DOS FUNGOS

O reino dos fungos é enorme, ocorrendo em todos os tipos de habitats, por todo o planeta! Variam desde formas microscópicas como as leveduras, até os cogumelos gigantes. Possuem estilos de vida altamente diversificados, desde os relacionamentos benéficos com plantas vivas, ou mesmo degradando e/ou  matando  seus hospedeiros.

"Todos os fungos desempenham um papel vital nos processos que governam a vida em nosso planeta" (Laessoe, 1998). 

Existem poucos trabalhos científicos ou publicações sobre os fungos de Sergipe, os quais são pouco acessíveis ao grande público. O objetivo desse 'blog'  é trazer informações sobre a ocorrência de cogumelos em  diversos ambientes do nosso estado, principalmente em áreas florestais como o Parque Nacional da Serra de Itabaiana. Iremos informar, na medida do possível, sobre as espécies de cogumelos, sua biologia e ecologia e também sobre os seus usos, ressaltando-se a necessidade proteger e conservar.

O cogumelo (basidiomiceto) Cantharellus cf. cinnabarinus Schwein. ocorre na Serra de Itabaiana

AVISO IMPORTANTE:

As informações aqui postadas, por si só não permitem a identificação segura de cogumelos. Não tente identificar cogumelos pelas imagens apenas. Existem muitas espécies perigosas ou letais! A identificação precisa requer muita experiência e rigor na informação. NÃO NOS RESPONSABILIZAMOS pelo uso incorreto das informações aqui disponibilizadas! Não utilizem cogumelos como alimento ou chás! MICOTOXINAS PODEM MATAR!

Ambiente encontrado na Serra de Itabaiana, propício para ocorrência de cogumelos.

Áreas de mata fechada são propícias ao desenvolvimento de uma diversidade de cogumelos e outros fungos. Apreciam os ambientes úmidos, com abundância de matéria orgânica e abrigados da luz solar direta. Na época de chuvas, os cogumelos abundam! 

 Caripia montagnei (Berk.) Kuntze (uma espécie de Basidiomiceto que contém polissacarídeos com propriedades imunoduladoras, Queiroz et al., 2009) é abundante nos solos úmidos das matas. 

No entanto, o que estamos observando é apenas uma fração pequena do fungo. A maior parte, as hifas (filamentos) responsáveis pela nutrição do basidiocarpo (o "chapéu" do cogumelo), penetram no interior do solo ou na madeira apodrecida. O basidiocarpo é o resultado do contato sexual entre hifas, sexualmente compatíveis, de dois fungos da mesma espécie. 

Hifas (células dos fungos) são filamentos que germinam à partir de esporos, invadindo o interior de um substrato. Neste caso específico um pedaço do tronco de uma árvore morta.

Esporos de fungos germinam no folhedo ou serrapilheira, as hifas resultantes atacam a madeira morta e ajudam a reciclar a lignina (a lignina ou lenhina é uma macromolécula tridimensional amorfa encontrada nas plantas terrestres). Juntamente com a celulose e a hemicelulose, a lignina é um dos principais constituintes da madeira, responsável pela sua resistência. Os fungos da decomposição branca ou podridão, são dotados de um sistema ligninolítico constituído de peroxidase (Lignina e Manganês-Peroxidase) e da lacase, enzimas que atribuem aos fungos a capacidade de desestabilizar a estrutura da lignina

Hifas (filamentos) podem ser observados em coalescência, formando corpos de frutificação (cogumelos). Os cogumelos na foto ainda não foram identificados (aceitamos contribuições!) Foto: Serra de Itabaiana.

As fotos seguintes mostram algumas espécies de cogumelos, encontradas em diversos locais de Sergipe. São capazes de degradar a lignina, enfraquecendo a madeira. madeiras de cercas, mourões, caibros, etc. podem ser destruídos por eles. No entanto o papel ecológico é de fundamental importância na reciclagem do que foi produzido através da fotossíntese.

Lentinus crinitus, uma espécie de cogumelo destruidor de madeira.

Lentinus crinitus é uma espécie comum no Brasil e está associada a troncos em decomposição. Apresenta basidioma centralmente estipitado, infundibuliforme e superfície abhimenial verrugosa a estrigosa. Esse poliporáceo é usado em biorremediação, ou seja, o uso de organismos vivos em tratamento de ambiente contaminado para reduzir a concentração dos poluentes a níveis não  detectáveis, não tóxicos ou aceitáveis, isto é, dentro dos limites estabelecidos pelas agências de controle ambiental. (Ballaminut, 2007)

Schizophyllum commune, fungo encontrado em todo o estado de Sergipe. Tem sido avistado atacando madeiras de cercas, portas, rodapés, árvores mortas e também galhos que foram parcialmente cortados (foto).

Schizophyllum commune Fries,  uma das espécies mais frequentes no planeta, presente em todos os continentes com exceção da Antártida. Possui enorme capacidade de resistência; seca e reidrata várias vezes ao longo da sua vida. Estão  bem adaptados a climas secos. Este fungo é capaz de degradar a madeira das árvores e causar a podridão branca. As enzimas produzidas por este fungo também são relevantes para a biorremediação de diversos poluentes. Podem infectar pessoas imunodeprimidas, crescendo no palato mole e desenvolvendo corpos de frutificação nas cavidades sinusais. Ver:   http://botit.botany.wisc.edu/toms_fungi/feb2000.html.


Os corpos de frutificação dos fungos, denominados comumente de cogumelos (também conhecidos popularmente como "sombrinha de sapo", "chapéu de bruxa", "chapéu de cobra", etc.), variam enormemente de forma, cor e tamanho. Alguns são muito conspícuos como é o caso da "orelha de pau" de cor vermelha, Pycnoporus sanguineus (L.) Murrill, que ocorre ao longo dos trópicos.

Pycnoporus sanguineus (L.) Murrill, uma 'orelha de pau' muito comum na região.
Foto: Serra de Itabaiana.

P. sanguineus é um Basidiomycota pertencente à ordem Aphyllophorales, família  Polyporaceae, e que possui poros na parte inferior do corpo de frutificação (basidioma, basidiocarpo).

A 'orelha de pau'  P. sanguineus, com minúsculos poros cobrindo toda a superfície da parte inferior do basidioma. (Clique na foto para ampliar).

Representantes de Aphyllophorales são, geralmente, sapróbios. Incidem em madeira morta, solo e folhedo. Causam dois tipos de podridão de madeira: branca e marrom. No caso da podridão branca são capazes de remover tanto a lignina quanto a celulose e hemicelulose, deixando o substrato com aparência esbranquiçada e esponjosa. Os que causam podridão marrom degradam celulose e hemicelulose, reduzindo o substrato a pedaços cúbicos amarronzados. No entanto, algumas espécies de Polyporaceae, Corticiaceae, Hymenochaetaceae , Stereaceae e Hericiaceae são adaptadas para penetrar em lesões de árvores vivas e atingir o cerne, causando o enfraquecimento das árvores atacadas e até a morte (Gibertoni, 2004).

Assassinos de Árvores! Cogumelos do gênero Ganoderma! 

Ganoderma lucidum (lucidum em chinês Língzhī, em japonês reishi; em coreano: yeongji) é uma espécie de cogumelo muito apreciado na Ásia, onde é utilizado como cogumelo medicinal na medicina tradicional chinesa há mais de 4.000 ano, tornando-o um dos cogumelos há mais tempo utilizados com fins medicinais. Veja o link: 

http://cogumeloscomestiveis.blogspot.com/2010/10/ganoderma-lucidum-em-chines-lingzhi-em.html

Ganoderma sp. sobre o que restou de um árvore (no Mosqueiro, Aracaju-Se.)

Ganoderma cf. lucidum (Curtis) P. Karst. (Provável primeira ocorrência para Sergipe). Foto: Floresta Nacional do Ibura-Se, em N. Sra. do Socorro.

Outro cogumelo (uma orelha de pau) muito comum em toda a região é a espécie Hexagonia hydnoides (Sw.: Fr.) K. Fidalgo. Infesta qualquer pedaço de madeira deixado 'à toa'. Vejam o que aconteceu com os restos de árvores deixados na margem da barragem do Poxim.

Hexagonia hydnoides, em associação com uma joaninha (Coleoptera, Coccinellidae)!

As duas faces (superior e inferior) do basidioma de H. hydnoides. O himenóforo poróide pode ser observado na face inferior. No interior dos poros são produzidos esporos denominados de basidiósporos.

Hexagonia hydnoides,  literalmente "comendo" o cabo de uma vassoura!

Assim como H. hydnoides, Gloeophyllum striatum é um decompositor de celulose e lignina, encontrado em madeira em decomposição (Serra de Itabaiana). Ainda não foi observado em outro habitat além da Serra. G. striatum aparentemente possui lâminas como nas Agaricaceae. Os poros estão situados nas bordas das supostas lâminas.

Gloeophyllum striatum, uma espécie com basidioma de consistência dura, coriácea. Primeira ocorrência para Sergipe.

G. striatum, é um cogumelo interessante, apesar de pertencer  à família Polyporaceae, possui "lâminas" (gill-like pores).

Hexagonia papiraceae, outra espécie comum na Serra de Itabaiana.

Fungos saprofíticos. Nem todos os corpos de frutificação encontrados sobre madeira em decomposição pertencem aos Basidiomicetos. O Ascomiceto da família Xylariaceae denominado Daldinia concentrica é encontrado não só nas matas, mas também em troncos mortos ou incinerados, em áreas que estão começando a ser ocupadas na região costeira, as restingas.

Daldinia concentrica,  O corte do ascocarpo ou ascoma, mostra o crescimento concêntrico, com camadas escuras de peritécios (sacos contendo esporos). Primeira ocorrência em Sergipe.

  POSTAGEM EM CONSTRUÇÃO!

Referências:
Ballaminut, Nara.  Caracterização fisiológica do inóculo de Lentinus crinitus (L.) Fr. CCB274 empregado em biorremediação de solo. / Nara Ballaminut -- São Paulo, 2007. 163 p. 

Læssøe, T. 1998. Mushrooms. Eyewitness Handbooks. - Dorling Kindersley, London, 304 pp.

Queiroz LS, Nascimento MS, Cruz AK, Castro AJ, Moura Mde F, Baseia IG, Araújo RM, Benevides NM, Lima LF, Leite EL. 2009. Glucans from the Caripia montagnei mushroom present anti-inflammatory activity. Source Glycobiology Laboratory, Department of Biochemistry, Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, Brazil.

Tatiana Baptista Gibertoni, Aphyllophorales (basidiomycotina) em áreas de mata atlântica do nordeste brasileiro. Tese de doutorado. UFPE-2004.